Ernesto Esposito

Me Two

DEZ PERGUNTAS
Definimos você de napolitano “verace”, qual é o seu relacionamento com Nápoles? Nápoles é minha terra e eu a vivo como parte de mim, amo suas cores, sua música, sua história, sua humanidade. Em Nápoles, sempre tivemos uma mistura de raças e religiões, aqui o sagrado e o profano se encontram, um pouco como no Brasil. Nápoles é uma cidade que, se você não a vive, não consegue entendê-la, mas isso lhe dá uma energia única.
E com o Rio de Janeiro? O Rio é minha segunda casa. Eu amo o Rio tanto quanto Nápoles: absolutamente não me faz sentir como turista! O sound é diferente, mas pelo menos existe! Você já ouviu, por exemplo, um sound em … Pavia?
Como você acha que o Brasil se coloca em relação à moda e arte? Não falaria sobre moda, por favor! A moda está ligada a uma idéia de materiais de alta qualidade e alto artesanato, no Brasil tudo fica bem, mas com um ar um pouco cheap . Eu, que tive a sorte de trabalhar na moda em níveis muito altos, percebo isso. Para a arte, o discurso é diferente. Hoje, no Brasil, encontro frescura e o desejo de fazer, me lembra muito o que experimentamos aqui nos anos Sessenta e Setenta. Não devemos esquecer que o Brasil agora é um país em grande desenvolvimento, mas há trinta anos tudo parecia diferente. No início dos anos 2000, experimentei o mesmo entusiasmo com os chineses e sua vanguarda.
Nestes dias que Sergio Rossi faleceu, o que você traz para dentro desse período vivido ao lado dele? Sergio Rossi era um dos meus professores, eu tinha três e, embora eu também tenho dado muito, o que assimilei foi o desejo constante de melhorar. Imagina que ele era capaz de refazer um sapato pelo menos três vezes em busca dessa perfeição que ele quase sempre conseguia alcançar. Ele era um homem generoso, com uma visão própria: um grande homem!
Um par de sapatos pode ser uma obra de arte? Sapatos podem ser a expressão máxima de alta habilidade e técnica, mas vamos deixar a arte de lado, por favor!
O que torna um objeto uma obra de arte? A idéia de arte passou por mudanças significativas ao longo do tempo … com Duchamp, começamos a pensar em uma obra, antes a arte era o que se tornou a fotografia e era transmitir uma imagem e reproduzir o real de maneira mais ou menos correta. Tínhamos artistas que eram de nível superior aos outros e isso existe até hoje. Um objeto se torna uma obra de arte quando faz você pensar e quando através dele pode entender perfeitamente quando e como foi concebido e executado. A arte contemporânea é o espelho do nosso tempo.
Na recente exposição Me Two, o que você acha que mais contribuiu para o seu sucesso? Em Some People, penso a minha figura colocada em um contexto específico. Sempre me senti como o Zelig de Woody Allen: no lugar certo, na hora certa, e isso é percebido pela exposição. Vi pessoas me olhar de forma diferente após a exposição. Quanto ao Brasil!, o que impressionou foi o frescor das obras, mesmo as mais caras, e a coragem de alguns para comprar coisas improváveis aos olhos de muitos, mas muito certas aos olhos de alguns. Aqui, tenho que agradecer a Elsa Ravazzolo, que me ajudou a tornar essa exposição tão nova.
Quais são os países hoje mais efervescentes do ponto de vista artístico? África, México e Brasil.
Quais são seus próximos projetos? Estou criando uma fundação para minha coleção de arte e poder propor e ajudar jovens artistas. Não quero mais trabalhar, me corrigo, não quero mais trabalhar para viver. Tenho a possibilidade de não fazer isso e gostaria de aproveitar meus quase setenta anos no mar e no sol. Eu dei muito e agora quero “pegar” tudo o que posso.